PAPEL ESTRATÉGICO DAS PREFEITURAS !!!!
O papel estratégico das prefeituras no futuro do SUS
A pandemia de covid-19 revelou a urgente
necessidade de uma revisão do papel do Estado e das políticas públicas,
sobretudo na área da saúde. Dispor de cobertura universal e de sistemas de
saúde robustos provou-se, mais do que um imperativo ético, um desafio
prioritário e incontornável à luz dos riscos sanitários que o mundo enfrenta –
os de agora e os que ainda estão por vir.
O Brasil construiu ao longo das últimas três
décadas o Sistema Único de Saúde (SUS).
O SUS produziu resultados extremamente importantes, mas muitos desafios
persistem. No longo prazo parece-nos claro que o orçamento para a saúde pública
terá de crescer significativamente.
No entanto, enquanto não se repensam as prioridades
orçamentárias do País, é necessário concentrar esforços na busca de ganhos de
equidade e qualidade que possam ser alcançados sem grandes custos adicionais. A
atuação dos 5.570 municípios poderá ser decisiva para a melhora do sistema.
Listamos abaixo cinco linhas de ação fundamentais a
implementar localmente, que resultam da Agenda Saúde desenvolvida pelo
Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) e pelos Institutos Arapyaú e Impulso.
A primeira tarefa
dos novos prefeitos deveria estar focada em reduzir fatores de risco para a
saúde da população por meio de uma política integral de promoção de saúde. Os
municípios devem assumir a responsabilidade de zelar pela qualidade do ar, da
água, da habitação e da alimentação de seus cidadãos. Podem, por exemplo,
incentivar a criação de espaços saudáveis, fomentar a prática de exercícios
físicos e limitar o consumo de alimentos ultraprocessados e de açúcares nas
escolas. Uma população mais saudável significa mais bem-estar e menor
sobrecarga do sistema de saúde.
A segunda é
melhorar a capacidade de monitoramento e vigilância sanitária e epidemiológica
dos municípios. Tal providência deveria ocorrer de forma integrada com os
serviços de atenção primária e com metas claras de redução da mortalidade e da
morbidade por causas infecciosas. Prevenção, vigilância e assistência
coordenadas deveriam ser capazes de evitar e resolver uma parte substancial dos
problemas de saúde da população.
A terceira tarefa é
expandir a cobertura da atenção básica e torná-la mais resolutiva. Nesse quesito,
cabe dar às equipes do Estratégia Saúde da Família (ESF) mais autonomia e
primazia na regulação do acesso aos serviços de média complexidade, de
diagnóstico e de especialistas. Em especial, é necessário integrar melhor o
atendimento na atenção primária a tais serviços. Expandir o acesso ao ESF a
todos os cidadãos é possível e teria um retorno inestimável para o sistema.
Deveria ser meta explícita de governo.
Mas não basta
ampliar, é necessário melhorar a qualidade. Por exemplo, experimentar novas
configurações das equipes. O atendimento à saúde ainda tende a ser muito
centrado no médico, dando pouca autonomia aos outros profissionais de saúde.
Aumentar a participação da enfermagem na produção ambulatorial seria um
primeiro passo importante nessa direção.
Outro espaço
promissor seria remodelar os sistemas de pagamento e a relação com os
prestadores privados de serviços. Sistemas que remuneram com base nos
resultados de saúde – e não por procedimento – conseguem diminuir custos e
aumentar a qualidade e a eficiência. Evidências científicas indicam que a porta
de entrada do sistema, quando bem administrada e com recursos suficientes, pode
resolver 80% dos problemas de saúde da população. Dessa forma se aliviariam as
demandas por serviços hospitalares, principalmente o atendimento de urgência e
emergência, que em muitas cidades do País já estavam à beira do colapso antes
mesmo da pandemia.
A quarta tarefa:
pautar as decisões da prefeitura de acordo com dados e indicadores de saúde da
população e fazer um monitoramento sistemático dessas métricas. Assim seria
possível alavancar o que estiver certo e corrigir rumos quando necessário.
Por fim, porém não
menos importante, os municípios devem trabalhar e alocar os seus recursos de
maneira coordenada com os seus vizinhos e com o governo estadual. Para isso
existem as regiões de saúde – agrupamentos de municípios que constituem uma
entidade intermediária do sistema, entre os municípios e o governo do Estado –,
hoje pouco exploradas. É inadmissível existir em cada um dos milhares de
municípios brasileiros um hospital de referência ou serviços de mais alta
complexidade e que demandam escala. A alocação de recursos deve ser planejada e
mais bem coordenada. A existência do SUS deveria permitir avanços mais rápidos
nessa direção, como já demonstram alguns Estados.
Com essas propostas pretendemos auxiliar os novos
governos a melhorarem as políticas de saúde. Os espaços para avançar são
enormes e atenderiam ao que é hoje a mais importante prioridade da população.
RESPECTIVAMENTE,
PRESIDENTE DO CONSELHO DO INSTITUTO DE ESTUDOS PARA POLÍTICAS DE SAÚDE (IEPS);
DIRETOR EXECUTIVO DO IEPS; DIRETOR DE PESQUISA DO IEPS E PROFESSOR DA FGV-EAESP
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